AR – Festival de Cinema Argentino
5º edição – Lisboa – 20 a 23 de Junho | Cinema São Jorge
1ª edição – Porto – 28 a 30 de Junho | Cinema Trindade
Nesta nova edição do AR, festival dedicado ao novo cinema argentino, vamos descobrir relatos profundos povoados por personagens que habitam as margens sem nunca estar à margem. Uma curadoria do quotidiano onde o que parece residual é “material” e que revela de forma incisiva várias questões políticas, económicas e sociais que emergem na sociedade contemporânea. Um conjunto enérgico e original de quinze filmes recentes, quase todos inéditos em Portugal, composto por seis propostas muito especiais na ficção, cinco documentários e quatro curtas-metragens, marcas da poética do cinema argentino contemporâneo com os seus mecanismos, linhas estéticas e preocupações artísticas.
Retratos que giram à volta de personagens espessos, captados com inquietude por câmaras íntimas. Uma mulher forte que afirma o prazer e a dor na voluptuosidade da filosofia em Mujer Nómade de Martín Farina ou um velho actor esquecido, residente na Casa del Teatro, uma espécie de Casa do Artista, seguido de perto pelo realizador Hernán Rosselli. Protagonistas que viajam por entre dilemas e mandatos pessoais de mota num subúrbio em El Motoarrebatador de Agustín Toscano, ao campeonato de uma vida em Malambo, el hombre bueno de Santiago Loza ou a Viena atrás da elegia necessária em Introduzione All’Oscuro de Gastón Solnicki. Três homens feridos, porém, sem selos de fatalidade na sua viagem.
Inesquecíveis contos da pós-modernidade, esse imenso reservatório de margens, que indagam sobre os afectos e os seus mistérios através de uma actriz que vai viver com a filha em Julia y el Zorro de Inés María Barrionuevo, de três irmãos pequenos à espera dos pais em El día que resistía de Alessia Chiesa ou de jovens adultos no deambular nocturno e musical por Buenos Aires em Te quiero tanto que no sé de Lautaro García Candela.
O documento, a memória, a contingência da História na história, em ruptura e continuidade, pautam propostas formalmente suis generis como Teatro de Guerra de Lola Arias, na qual se encontra um conjunto de veteranos da Guerra de Malvinas, argentinos e ingleses, 37 anos depois do conflito que ainda está por resolver. Juntas de Laura Martínez Duque e Nadina Marquisio escreve na água a comovedora história do primeiro casal de mulheres a celebrar oficialmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo na América Latina, ou a especialíssima La Película Infinita de Leandro Listorti, um filme feito de filmes que nunca foram terminados.
Nas curtas, quatro olhares bem diferentes, sabiamente compostos, arrojados na forma, universais no epicentro: Volverse aire de Cristina Motta é um grito necessário e urgente contra a violência de género, Mientras las Olas de Carmen Rivoira e Delfina Gavaldá, um singular e astuto coming from age, T.R.A.P. de Manque la Banca um ensaio visual e sonoro que invoca o passado para pensar o presente e Y ahora elogiemos las películas de Nicolás Zukerfeld é o mote perfeito para além de uma homenagem às pequenas grandes coisas.
Infatigáveis personagens, espelho de uma sociedade em crise mas que não deixa nunca de vibrar, ambientes e enlaces dramáticos profundamente inspirados tanto quanto arejados. O cinema argentino está vivo e respira-se em Lisboa de 20 a 23 de Junho e, pela primeira vez, que alegria, no Porto de 28 a 30.
Obrigada aos realizadores e produtores, aos nossos apoios e, sobretudo, à família e amigos que ajudam a tornar isto possível ano após ano.
VAIVEM